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PURIM – A Festa das Sortes

A Palavra ‘Purim’

A origem da palavra ‘Pur‘ aparenta ser persa. Como escrita na Meguilat Kod’shua [Esther], significa ‘sorteio’. Purim é o plural da palavra ‘Pur‘, e portanto significa ‘sorteios’. A festa se chama Purim devido aos sorteios promovidos por Haman.

A palavra Pur também está relacionada com a palavra hebraica ‘porer‘, que significa desmantelar, quebrar, destruir, quebrar em pedaços. A palavra ‘hefir‘, derivada do verbo ‘pur‘ tem o sentido de cancelamento, quebra de algo permanente, como a violação de uma aliança, o fim de um casamento ou uma greve.

O significado mais antigo para a palavra ‘pur‘ é ‘pequenos fragmentos de pedra ou cerâmica’. Este uso bastante antigo da palavra tem sua origem no costume antigo de se fazer sorteios utilizando pequenas pedras, ou pedaços de pedra, numa urna. Conhecemos esta maneira de sortear-se através da Bíblia. No livro de Yaosh [Josué], foi descoberto que Achan violou seu cherem em Yaricho apenas depois que toda a população passou por sorteios diversos, acreditando-se que os resultados eram dirigidos pelo Criador.

Um uso semelhante prevaleceu na Grécia, na cidade de Atenas. Para determinar quem era indesejável na cidade e deveria ser expulso, os nomes eram gravados em pedaços de cerâmica (ostracon), e lançados numa urna. Esta é a origem da palavra ostracismo, que significa excluir, por consentimento geral, da sociedade e de privilégios.

Haman escolheu fazer sorteios para determinar o dia e mês mais propícios para atacar os judaicos. Os antigos persas acreditavam que os signos do zodíaco afetavam o destino do homem, e creditavam muita honra aos astrólogos e magos. Para muitos pesquisadores, o sorteio não resultou no mês de Adar por acaso, mas intencionalmente, já que uma importante festa persa da deusa Anahita era celebrado no meio deste mês, e o interesse de Haman era deixar o povo contra os judaicos justamente durante estes dias de alegria e entusiasmo.

A palavra ‘pur‘ tem significado semelhante ao da palavra ‘payis‘  – loteria, tão difundida em Yaoshor’ul. A Mishná relata que nos serviços do Templo, em Yaosh’ua-oléym, os Cohanim competiam pelas tarefas mais importantes. Certa vez aconteceu que dois sacerdotes correram para fazer algo, mas um puxou o outro, que caiu e quebrou a perna. Ficou então decidido que aquela, e outros tarefas, teriam seus responsáveis definidos apenas através de um sorteio feito numa urna.

Nos tempos modernos, quando se procurava uma palavra para a loteria yaoshua’ulense, a palavra ‘payis‘ foi escolhida. Esta palavra surgiu no vocabulário hebraico cerca de 6OO anos após a palavra ‘pur‘, mas foi preferida para que a palavra ‘Purim’ permanecesse identificada apenas com a festa.

Uma palavra recentemente introduzida na língua hebraica apontando para pequenas festas parecida com o Purim escriturístico e transformou-se num símbolo de salvação para os judaicos, e diversos ‘purims’ foram estabelecidos para marcar dias em que os judaicos foram salvos em diversos lugares do mundo de situações de perigo. Esses ‘purims’ especiais eram chamados segundo o local onde o milagre havia acontecido, por exemplo: Purim de Frankfurt, Purim de Saragossa, Purim de Casablanca, etc.

 

HISTÓRIA COMPLETA DE PURIM

[crônica judaica]

Akashverósh  (Assuero ou Xerxes I)  sobe ao trono da Pérsia

“E se passou nos dias de Achasverosh…” (Meguilat Kod’shua 1:1)

Há mais de dois mil anos (no ano 3.392 após a Criação do mundo), o rei Akashverósh subiu ao trono da Pérsia. Apesar de não ser o herdeiro legítimo da coroa, conseguiu impressionar o povo pelas suas riquezas e poder, estabelecendo seu reinado sobre todos os territórios persas. Guerreava muito e conseguiu numerosas vitórias. Seu império se estendia das Índias até a Etiópia, comportando 127 países.

O rei, que já havia conquistado vivamente o povo persa pela sua opulência, impressionou-o ainda mais com seu casamento com Vashti, filha de Belshatsar, rei da Babilônia, e neta do poderoso Imperador Nevuchadnetsar. O povo estava persuadido de que a dinastia babilônica estava destinada a reinar para sempre.

Akashverósh governava com mão de ferro e jamais hesitava em perseguir aqueles que suspeitava de traição. Os inimigos de Yaoshor’ul bem conhecidos por sua astúcia, os samaritanos e amonitas, que tinham organizado uma campanha para abolir o decreto imperial do rei persa anterior, Cyro, autorizando os judaicos a reconstruírem o Templo de Yaosh’ua-oléym, aproveitaram-se da situação. Corrompiam os governadores persas, nomeados para dominar o Reino de Yaohu’dáh e os países vizinhos, para que revelassem à corte imperial da Pérsia os rumores segundo os quais os judaicos, ao reconstruírem o Templo, teriam a intenção de se revoltar e se libertar completamente do domínio persa. Como bem sabiam, nenhuma lei poderia ser anulada sem o consentimento do rei.

Estes samaritanos inescrupulosos decidiram então, utilizar-se de falsas acusações e declarar que os judaicos, não somente reconstruiriam o Templo, mas reedificariam ao mesmo tempo as fortificações da cidade que foram destruídas pelo Imperador da Babilônia, Nevuchadnetsar.

A reconstrução das fortalezas ao redor de Yaosh’ua-oléym era proibida pelo império real. Os samaritanos pensavam então ser isso, motivo suficiente para anular o decreto imperial do rei Cyro que havia autorizado os judaicos a reconstruírem o seu Templo.

Entretanto, temiam proferir tais mentiras, facilmente esclarecidas, cujas consequências poderiam ser perigosas. Tramavam então um plano astucioso no qual não correriam o sério risco de serem responsabilizados por falsas acusações. Pretendiam subornar com dinheiro os secretários do rei encarregados de traduzir a acusação original escrita na língua samaritana, para que fossem acrescidas as palavras “Muro de Fortificação”, na parte do texto que se referia ao Templo. Esperavam assim poder justificar sua mentira, invocando um simples erro de tradução.

Os dois secretários designados a apresentar o documento ao rei eram Rachum e Shamshi, sendo que o segundo era um dos filhos de Haman. Ambos possuíam um ódio feroz dos judaicos. A trama obteve sucesso e os judaicos receberam a ordem de parar a reconstrução do Templo em Yaosh’ua-oléym.

O trono do rei Shua’ólmoh

“Naqueles dias quando o rei Akashverósh sentou no trono real em Shushan…” (Meguilat Kod’shua 1:2)

Desde que Akashverósh proclamou-se rei da Pérsia, decidiu utilizar o trono, pertencente ao rei Shua’ólmoh (Salomão), encontrado junto a seus despojos.

Este trono era o mais maravilhoso, sobre o qual um rei jamais se sentara. Era construído de marfim recoberto de ouro, incrustado de rubis, safiras, esmeraldas e demais pedras preciosas que lançavam faíscas multicoloridas.

Possuía seis degraus, e cada um deveria recordar um dos seis mandamentos especiais que um rei de Yaoshor’ul deveria cumprir. Estavam esculpidos, em cada degrau, dois animais em ouro com a face voltada um ao outro. No primeiro: um leão e um boi; no segundo: um lobo e um carneiro; no terceiro: um tigre e um camelo; no quarto: uma águia e um pavão; no quinto: um gato e um galo; no sexto, enfim: um falcão e uma pomba. Na parte superior do trono, uma pomba segurava em seu bico um falcão, ambos de ouro.

Na parte lateral, sobre o trono encontrava-se uma esplêndida Menoráh (candelabro), ornamentada com taças, botões e pétalas de flores, tudo em ouro puro. De cada lado da Menoráh erguiam-se sete braços. De um lado gravados os nomes dos sete pais do mundo: Adam, Nôach, Shem, Avraham, Yitschac e Yaacov, com Iyov no centro, e do outro os nomes dos homens mais pios: Levi, Kehat, Amram, Moshê, Aharon, Eldad, e Medad com Chur no meio.

De cada lado do trono havia uma cadeira especial em ouro, uma para o Cohen Gadol (o Sumo Sacerdote) e outra para o Segan (Vice-Cohen Gadol), rodeados de setenta cadeiras, também de ouro, para os membros do Sanhedrin (a Corte da Suprema Justiça), com vinte e quatro vinhedos de ouro formando uma cúpula sobre o trono.

Quando o rei Shua’ólmoh subia ao trono, começava a funcionar um mecanismo especial. No primeiro degrau, o boi e o leão estendiam suas patas para sustentar e ajudá-lo a subir ao próximo degrau. De cada lado e em cada degrau, os animais mantinham firmemente o rei até que ele se sentasse no trono. Mal se sentava, vinha a águia trazendo-lhe a grande coroa e a mantinha acima de sua cabeça, para que não sentisse o seu peso.

Em seguida a pomba sobrevoava por cima da Arca Sagrada, pegava um pequeno Sêfer Toráh e o colocava nos joelhos do rei, conforme o preceito da Toráhh, segundo o qual um Rolo de Toráh deveria sempre acompanhar o rei a fim de servir-lhe como um guia para governar Yaoshor’ul.

O Cohen Gadol, o Segan e os setenta membros do Sanhedrin levantavam-se e saudavam o rei. Após esta cerimônia, se sentavam para estudar e julgar os casos e situações do reino a eles apresentados.

Todos os reis e príncipes daquela época falavam do trono do rei Shua’ólmoh e vinham admirar sua beleza e engenhosidade. Posteriormente, quando o faraó Nechê, invadiu o país de Yaohu’dáh, apossou-se do trono, mas ao colocar o pé no primeiro degrau, o leão de ouro desfechou-lhe um violento golpe que o fez cair, deixando-o enfermo durante o resto de sua vida. Este é o motivo pelo qual ele recebeu o apelido de “nechê” – que significa “o manco”.

Mais tarde, quando Nevuchadnetsar destruiu o Templo e subseqüentemente conquistou o Egito, levou o trono consigo à Babilônia. Mas na tentativa de subir, o leão o derrubou, e ele nunca mais ousou intentar. Depois, o rei Dárius da Pérsía conquistou a Babilônia e trouxe o trono para a Média. Quando Akashverósh tentou por sua vez subir ao trono, recebeu um golpe na parte inferior das costas.

Não repetiu a façanha nunca mais, porém convocou alguns engenheiros especialistas do Egito e lhes ordenou a construção de um trono análogo ao do rei Shua’ólmoh. Estes, por sua vez, trabalharam por quase três anos consecutivos para edificá-lo, e foi para esta ocasião que o rei Akashverósh deu uma grande festa.

A festa real

“No terceiro ano de seu reinado, ele ofereceu um banquete…” (Meguilat Kod’shua 1:3)

O rei Akashverósh, que era um usurpador, procurava constantemente novos métodos para reforçar seu poderio e ganhar os favores do povo, tanto quanto dos poderosos homens de Estado que pertenciam à corte real.

Para tanto, transferiu a capital da Babilônia para Shushan, na Pérsia, e o que mais impressionou a todos foi a festa real que ofereceu com a duração de 18O dias. Todos os representantes das nações do seu vasto império foram convidados a participar. Após esses seis meses, ele organizou um festejo especial para toda a população de Shushan, que durou sete dias.

No decorrer desta festa, cujo objetivo era ganhar a popularidade e simpatia da grande massa, lugares de honra foram concedidos a simples cidadãos, cujas mínimas exigências foram prontamente atendidas.

Existia um velho costume persa que estabelecia que, durante uma refeição importante, cada convidado deveria beber até o fim, uma grande taça de vinho, de aproximadamente 5/8 de um tonel. Mas o rei Akashverósh, procurando satisfazer a todos, não os obrigou a tomar esta quantidade, pois não quis que seus convidados fizessem algo que não os agradasse.

Naquele instante o CRIADOR proclamou: “Tolo e vaidoso! Como você pode querer satisfazer a todos? Quando dois navios seguem em rotas opostas, um em direção ao sul, e o outro ao norte, como pode um ser humano fazer com que um único vento seja capaz de empurrar os dois? Amanhã, dois homens virão, Mordechai e Haman. Você não poderá agradar a ambos; você será obrigado a valorizar um e desprezar o outro. Somente o ETERNO, pode satisfazer a todos”.

O rei Akashverósh ficou muito perturbado, porque dera ordem de parar a construção do Templo de Yaosh’ua-oléym. Mas o medo verdadeiramente apoderou-se dele com a aproximação do término dos setenta anos de exílio previsto pelos profetas judaicos. Temia que a restauração do Estado judeu e a reconstrução do Templo terminassem por abalar os fundamentos sobre os quais se baseava seu vasto império. Era neste estado de angústia que ele esperava o fim destes setenta anos.

Segundo seus cálculos, os setenta anos deveriam terminar durante o terceiro ano do seu reinado. Quando viu passar esta data sem nada ocorrer, ficou jubiloso e acreditou finalmente que os judaicos seriam para sempre seus súditos, sem jamais recuperar o poderio e a independência.

Esta foi a outra razão para tão pomposa festa. Sentia-se seguro e poderoso; com efeito estava tão certo de seu poderio que não hesitou em utilizar à sua mesa a preciosa e sagrada louça do Templo, capturada pelo terrível Nevuchadnetsar.

Como todas as outras nações, os judaicos foram convidados a assistir à festa real. Haman, simples funcionário, que ainda não ocupava um cargo de prestígio, viu nisto uma chance de lhes preparar uma armadilha, atraindo-os a comer alimentos não casher. Em seguida, aproveitando-se da momentânea cólera do CRIADOR contra o seu povo, resolveu perseguir os judaicos e colocar em prática o seu projeto de exterminá-los.

Mordechai que, na época era o grande líder de seu povo, tomou conhecimento desse plano, e exortou os judaicos a evitarem o palácio, a fim de não incorrerem na ira Divina. A grande maioria seguiu seu conselho, mas alguns não o obedeceram e foram ao palácio para assistir a festa. Para sua consternação, descobriram nas mesas os objetos sagrados do Templo e se retiraram. Mas o rei apressou-se em ordenar a seus servos para colocar mesas especiais para os judaicos. Eles então abandonaram toda sua altivez, comendo iguarias e bebendo vinho não casher, divertindo-se tanto quanto os demais convidados.

O CRIADOR, bastante irritado pela desobediência de Seu povo, ordenou que ele fosse perseguido por Haman e decidiu que somente seria salvo quando retornasse de todo coração ao ETERNO.

A condenação à morte

“A rainha Vashti recusou-se a obedecer a ordem do rei que lhe havia sido transmitida… ” (Meguilat Kod’shua 1:12)

O sétimo e último dia da grande festa realizada no palácio real era um Shabat. Enquanto os judaicos religiosos não trabalhavam, mas recitavam preces e estudavam a Toráh, as orgias no palácio não cessavam. O rei, com a língua solta pelo vinho, começou a gabar-se de suas riquezas, de seu grande império e até mesmo de Vashti, a rainha, que pela sua beleza e extraordinário charme superava a todas as outras mulheres. Um dos convidados, excitado pelos licores e vinho ingeridos, desafiou o rei a provar a veracidade de suas palavras, permitindo a Vashti exibir a sua beleza aos convivas. O rei imediatamente mandou procurar a rainha e ordená-la a vir à sua presença.

No fundo do coração Vashti possuía um ódio terrível contra os judaicos, ira que havia herdado do rei Nevuchadnetsar, seu avô. Tinha o prazer de torturar meninas judias, mandando trazê-las no Shabat e forçando-as a fazer todos os tipos de trabalho. Quando o rei a chamou, falou indignada: “É possível que me ordenaram buscar como a uma simples escrava?” E com muita audácia – recusou-se a obedecer a ordem do rei de ir até o salão onde se realizava o banquete.

O rei ficou irado. Reuniu sábios conselheiros de seu reino para julgar e condenar Vashti por desobediência. Mas todos temiam falar, menos Haman, que naquela época, era um funcionário desconhecido chamado de Memuchan, e de todos estes homens era ele quem ocupava o posto mais inferior. Aconselhou o rei a executar Vashti, pois, dizia ele, seu ato afrontoso poderia trazer conseqüências desastrosas de grande porte. Portanto Vashti foi morta por rebelar-se.

Entretanto, não foi simples coincidência que a cruel Vashti foi condenada à morte no Shabat. Ela estava pagando assim o sofrimento que causou às crianças judias no sagrado dia de Shabat.

Mordechai e Kod’shua

“Havia em Shushan, a capital, um judeu… ” (Meguilat Kod’shua 2:5)

Após a morte de Vashti, buscas foram empreendidas em todo o reino para achar uma esposa adequada para o rei. Todas as moças, as mais belas do país foram levadas ao palácio para que o rei pudesse escolher uma dentre elas, para substituir a Vashti.

Em Shushan, habitava um judeu religioso e sábio, Mordechai, que tinha uma gentil e charmosa prima, Kod’shua ou Hadassa, órfã, tendo sido criada por Mordechai.

A maioria dos pais teria considerado o casamento de sua filha com o rei uma honra rara e um grande privilégio. No entanto, Mordechai temia o dia no qual Kod’shua seria chamada a se apresentar à corte. Ele sabia que não poderia escondê-la por muito tempo. Finalmente as autoridades ouviram falar de Kod’shua e vieram buscá-la para conduzi-la ao palácio.

As buscas para substituir Vashti perduraram por alguns anos. As moças mais belas de todas as 127 províncias do império foram reunidas no palácio do rei em Shushan, cada uma desejando ser escolhida como rainha. Todas receberam o tratamento de beleza exigido e os vestidos mais extraordinários que poderiam ambicionar.

Kod’shua foi a única a nada pedir. No entanto, desde sua chegada ao palácio, todos foram cativados pela sua modéstia e ela foi tratada com respeito e deferência. Sua beleza provinha da alma, o que lhe conferia um charme e uma graça dos quais somente ela possuía o segredo. Apesar de não ser a mais bela das moças que tinham sido reunidas, o rei lhe deu preferência. Quando soube que havia sido escolhida para se tornar rainha rodeou-se de leais servos judaicos que lhe providenciavam comida casher. Escondia sua origem, pois Mordechai lhe havia dito para revelá-la somente quando obrigada a fazê-lo. Portanto o rei não conhecia sua nacionalidade; sabia somente que era órfã.

Todos os dias, Mordechai ia ao palácio para obter notícias. Ele achava que a jovem tivera um mau destino, mas consolava-se ao pensar que havia sido escolhida pelo CRIADOR por sua devoção, para ajudar o povo judeu em caso de necessidade. Mordechai sentia que nuvens sombrias se levantavam no horizonte e previa dias difíceis para seus irmãos judaicos.

A conspiração é descoberta

“Naqueles dias… dois camareiros do rei… elaboraram um plano para destroná-lo… ” (Meguilat Kod’shua 2:21)

Após ter sido escolhida como rainha da Pérsia, Kod’shua perguntou ao rei a razão dele não possuir um conselheiro judeu, como haviam feito os outros reis.

Ela lembrou-lhe que, mesmo o poderoso Nevuchadnetsar tinha um conselheiro judeu, o profeta Dayan’ul. O rei respondeu que não conhecia nenhum judeu digno de ser nomeado para o cargo. “Existe Mordechai”, respondeu Kod’shua. “É um homem sábio, religioso e leal.” Foi assim que Mordechai tornou-se conselheiro do rei.

Um dia Mordechai ouviu uma conversa entre dois servos do rei, Bigtan e Teresh. Descobriu que tinham a intenção de envenenar o rei, pois ele os havia destituído do seu cargo de camareiros-mor e os colocado abaixo de Mordechai. Queriam que todos acreditassem que no longo tempo que se ocupavam do rei, sua vida esteve em segurança, mas bastou um judeu ser nomeado na corte, para que viesse a ser vítima de um envenenamento. Apesar de serem tártaros e falarem o idioma de seu país, Mordechai, que por ser membro do Sanhedrin deveria conhecer todas as línguas, não teve nenhuma dificuldade em entender esta conversa. Revelou a Kod’shua o complô que se tramava, e ela por sua vez, informou ao rei, em nome de Mordechai.

Após a sesta, o rei pediu sua bebida costumeira a seus dois criados, Bigtan e Teresh que, ignorando serem suspeitos a trouxeram envenenada. O veneno foi imediatamente descoberto na taça e os dois homens condenados à morte, enquanto que no livro de memórias reais, foi relatado que Mordechai havia salvo a vida do rei.

O novo primeiro ministro

“Após estes acontecimentos, o rei Akashverósh concedeu a Haman uma posição acima de todos os ministros…” (Meguilat Kod’shua 3:1)

O cruel Haman descendia de Amalec, o inimigo implacável dos judaicos. Era o homem mais rico do seu tempo. Ele adquirira suas riquezas desonestamente, apossando-se dos tesouros dos reis de Yaohu’dáh. O rei Akashverósh fortemente impressionado pela sua fabulosa fortuna, nomeou-o Chefe do Conselho de Ministros. Ele promulgou, em seguida, uma ordem determinando a cada um na corte de se inclinar perante Haman, por deferência.

Haman trazia em seu peito a imagem do deus que adorava. Mordechai recusava-se a prostrar-se perante ele, apesar das numerosas advertências que havia recebido dos diversos oficiais da corte. Quando o próprio Haman o censurou por não lhe dar a honra que o rei lhe havia conferido, Mordechai teve uma resposta muito justa: que era judeu e que não se inclinaria jamais perante um ser humano com um deus pagão por sobre o peito.

Mordechai e Haman já haviam se encontrado anteriormente em outras circunstâncias. Há muitos anos atrás, no tempo do rei Cyro, quando os judaicos haviam recomeçado a reconstrução do Templo de Yaosh’ua-oléym, vivia na Samária uma tribo que o rei Sancheriv tinha trazido após ter enviado ao exílio muitos judaicos. Estes samaritanos praticavam parcialmente a religião judaica, mas não se identificavam totalmente com o povo judaico e a Toráh.

Quando o rei Cyro concedeu aos judaicos a autorização de construir o Templo, os samaritanos queriam participar da sua edificação, mas os judaicos recusaram esta ajuda. É por este motivo que os samaritanos faziam todo o possível para impedi-los de realizar esse projeto tão caro a eles.

Apesar de seus esforços, os samaritanos não alcançaram a sua meta. Dirigiram-se então à corte real da Pérsia, acusando os judaicos de não se contentar com a reconstrução do Templo, mas de organizar também uma rebelião contra o domínio persa.

Os samaritanos, juntamente com outros inimigos dos judaicos escolheram Haman para representá-los na corte do rei Cyro e apoiar suas acusações. Os judaicos, por sua vez, designaram Mordechai como seu advogado.

Os dois homens partiram ao mesmo tempo rumo à Pérsia. Como eram obrigados a atravessar o deserto, levaram víveres para a jornada. Haman, que era glutão terminou rapidamente com suas provisões, enquanto Mordechai conservara o suficiente para toda a viagem.

Haman que estava faminto, pediu a Mordechai para dividir com ele os alimentos que restavam. Inicialmente, Mordechai recusou-se, mas tomado pela piedade, aceitou, com a condição de que Haman se tornasse seu escravo.

Como não encontraram nenhum papel para concretizar o contrato, Haman escreveu este compromisso na sola de um dos sapatos de Mordechai: “Eu, Haman, descendente de Agag, me vendi como escravo a Mordechai, em troca de pão.”

Desde então, Haman não podia perdoar Mordechai por esta humilhação e temia constantemente que Mordechai fizesse com que ele cumprisse com seu compromisso. Naturalmente, Mordechai jamais sonhara em tirar algum proveito disto.

Quando Haman tornou-se Primeiro Ministro e exigiu que Mordechai se inclinasse perante ele, este levantou seu sapato e o agitou no ar. Haman segurou sua língua e se calou. Mas em sua ira, jurou destruir Mordechai e todos os judaicos.

A trama de Haman

Não foi preciso muito tempo para Haman descobrir um meio através do qual esperava exterminar todos os judaicos das 127 províncias da Pérsia e, entre eles, seu pior inimigo – Mordechai.

Sem perder tempo, fez uma longa lista de falsas acusações contra os judaicos. Para dar à elas uma maior aparência de veracidade e abusar da ingenuidade do rei, algumas eram reais ou parcialmente corretas. Haman aproximou-se do rei, dizendo-lhe que o povo estava impaciente e para tanto era preciso encontrar uma diversão apropriada. Acrescentou afirmando que havia chegado o tempo de perseguir os judaicos.

Mas o rei replicou timidamente: “Seu o CRIADOR é poderoso, fará com que eu tenha o mesmo destino de Nevuchadnesar e de outros monarcas que injuriaram os judaicos.”

Haman disse-lhe então: “Mas há muito tempo os judaicos abandonaram seu UL”

“Mas não há entre eles, homens religiosos e devotos?”, perguntou o rei.

“Eles são todos iguais, um não vale mais do que o outro”, respondeu Haman.

O rei continuou argumentando: “Mas isso poderá prejudicar o interesse do meu reino.”

Ao que Haman respondeu que os judaicos se encontravam espalhados por todo o território e ninguém perceberia seu extermínio. Continuou a difamar e a humilhar os judaicos aos olhos do rei, insistindo em afirmar que era um povo isolado, que vivia, comia e bebia entre si, não se misturava e nem casava com moças do país, era pouco desenvolvido e preguiçoso, pois constantemente observava dias de descanso como Shabat, Pêssach, Shavuot, Sucot, etc.

O CRIADOR ouvia o que era proferido e disse: “Homem perverso! Tu estás reclamando das festas que Meus filhos celebram. Pois bem, Eu lhes darei mais outra, para que possam comemorar a tua queda.”

Haman ofereceu ao rei dez mil moedas de prata para compensar as despesas com a perseguição aos judaicos, mas o monarca sorriu e falou: “Guarda o dinheiro e acossa os judaicos com ele. Faz deles o que te agradar.”

Sobre esta transação, “nossos sábios” contam a seguinte parábola:

Havia dois colonos cujos campos eram vizinhos. No primeiro existia um grande poço que o proprietário queria preencher com terra, enquanto que no segundo, uma colina cujo dono queria suprimi-la. Certo dia, estes homens se encontraram. O primeiro disse: “Você quer me vender tua colina, pois quero tampar o meu poço?” O outro respondeu: “Você é o homem que procuro. Eu lhe dou a colina gratuitamente, pois pensava em me livrar dela”.

Como prova de sinceridade, o rei Akashverósh tirou seu anel de sinete e o entregou a Haman, dando-lhe poder absoluto. Haman tinha agora seus passos livres. Podia publicar decretos e promulgar ordens, ficando os judaicos em suas mãos, o que o deixou imensamente feliz.

Imediatamente começou a executar seu sombrio propósito. Chamou os escribas do rei e ordenou-lhes que preparassem dois decretos reais para enviar a todos os embaixadores e governadores das 127 províncias.

O primeiro era um edital aberto e ordenava a todos os governadores que fornecessem armas ao povo para o dia 13 de Adar, a fim de que, neste dia massacrassem um certo grupo prejudicial à nação. O segundo decreto, lacrado, indicava o nome desse grupo, mas eles somente tinham a permissão de abri-lo no dia 13 de Adar. Esta ordem indicava em termos claros e inequívocos, que o povo persa devia atacar e matar todos os judaicos, jovens e velhos, mulheres e crianças, em todo lugar onde estivessem.

Estes dois decretos irrevogáveis, devidamente assinados e selados com o carimbo do anel do rei, foram enviados de imediato a todos os dirigentes do reino. O astuto Haman tinha tomado as devidas precauções para que seu plano permanecesse secreto, para surpreender os judaicos sem lhes dar nenhuma escapatória. Ele saiu do palácio exultante, para informar Zeresh, sua mulher, de seu engenhoso plano.

Mordechai que se encontrava no portão do palácio real, percebeu a exuberante alegria refletida na face de Haman, e deduziu que este havia preparado alguma surpresa. Ele avistou três crianças judias que saíam da escola e seguiu-as. Mordechai pediu a uma delas:

“Diga-me o que aprendeu hoje?”

O menino respondeu-lhe: “Não temas um medo repentino e as catástrofes dos perversos quando vierem.” (Mishlê 3:25)

O segundo abriu conversa e falou: “Eu estudei hoje a Toráh e parei no versículo: “Eles (os perversos) têm planos que serão anulados, falam palavras que não se concretizarão, pois o CRIADOR está conosco.” (Yahshua’yaohuh 7:10)

O terceiro citou o versículo: “Até a velhice Eu serei o mesmo; na idade avançada Eu te guiarei; Eu já o fiz e Eu continuarei a te sustentar; Eu te orientarei e Eu te redimirei.” (Yahshua’yaohuh 46:4)

A face de Mordechai iluminou-se e ele abraçou as crianças com amor.

Haman que havia testemunhado a cena, estava curioso por saber o significado do que havia presenciado. Perguntou: “O que fizeram estas crianças, para te deixar tão alegre?” E com um ar triunfante, Mordechai respondeu: “Elas me trouxeram boas notícias, abençoadas sejam, e me disseram que não preciso temer-te”.

Haman, nervoso, exclamou: “Serão as crianças as primeiras a sentirem minha mão destrutiva.

Mordechai entra em ação

“E Mordechai soube do que estava ocorrendo…” (Meguilat Kod’shua 4:1)

Na mesma noite Mordechai teve um sonho estranho. Uli’yaohuh, o profeta, o maravilhoso protetor que surge em tempos de aflição para avisar o povo judeu de perigo iminente, apareceu-lhe, revelando o complô de Haman. O profeta acrescentou que os judaicos estavam ameaçados, pois não haviam respeitado os mandamentos da Toráh, comendo alimentos não casher. Somente um profundo arrependimento poderia salvá-los.

Ao acordar, Mordechai rasgou suas vestes e foi para as ruas da capital. Seus gritos e choro despertaram todos os judaicos de Shushan. A má notícia se espalhou rapidamente pela cidade. Quando eles souberam que, estavam condenados a morrer no dia 13 de Adar, sentiram uma imensa dor. Vestido com panos de sacos e com cinzas espalhadas pela cabeça, Mordechai chegou aos portões do palácio. Os fiéis servidores de Kod’shua, avisaram-na do estado no qual se encontrava Mordechai. Estas notícias a preocuparam muito.

Desejosa em saber a razão da aflição de seu primo, Kod’shua enviou-lhe roupas para que pudesse trocá-las pelas suas, com as quais ele não poderia adentrar no palácio. Pediu-lhe para vir imediatamente contar o ocorrido. Mordechai recusou-se a tirar o saco, mas, enviou à rainha através do seu fiel servo Hatach, um pequeno bilhete, anexo à cópia do decreto real publicado em Shushan. Ele pedia à rainha para intervir junto ao rei a fim de salvar o povo judeu. Mordechai, estava plenamente convencido de que Kod’shua se tornara rainha somente para permitir a ele, ajudar o seu povo em uma época tão decisiva. Era chegada a hora dela revelar ao rei sua origem e solicitar dele que não fosse feito mal algum aos judaicos, a respeito do que fora induzido erroneamente pelo arrogante Haman.

Kod’shua escreveu a Mordechai estas linhas: “Caro primo, estou pronta a fazer todo o possível, mas tu certamente conheces as instruções rigorosas dadas pelo rei, influenciado por Haman, segundo as quais qualquer pessoa que penetrar nos aposentos do rei sem ter sido convidada, será condenada à morte, a menos que o rei lhe estenda o cetro de ouro. O perverso Haman deve ter pressentido que eu iria tentar ver o rei. Infelizmente, eu não tive a chance de vê-lo nestes últimos tempos. Já fazem trinta dias que ele não me chama. Como posso estar segura de que ele aceitará me receber e estenderá seu cetro? Claro que não tenho medo de morrer pelo meu povo, mas o que ganharíamos se eu perecesse em vão?”

Sobre isto respondeu Mordechai: “Tuas palavras são escritas de boa fé e sinceras, minha filha. Mas tu acreditas poder assegurar tua saúde abrigada no palácio real, enquanto teus irmãos morrerão? Não, os judaicos serão salvos, mas se não quiseres arriscar tua vida por eles, estou certo de que somente tu perecerás. Não é o momento de pensar na tua segurança pessoal. É preciso que tentes e tenhas confiança no ETERNO”.

O jejum de Kod’shua

“Então Kod’shua, respondeu a Mordechai: ‘Vai e reúne todos os judaicos… e jejuai em meu favor… Da minha parte, também jejuarei com minhas servas'” (Meguilat Kod’shua 4:15-16)

Kod’shua entendeu então o grave perigo que ameaçava o povo judeu. Sim, ela estava pronta, de todo coração, a arriscar sua vida por seus irmãos. Mas que situação desesperadora! Mesmo que ela salvasse sua vida e o rei aceitasse seu pedido, os decretos com o selo real continuariam irrevogáveis; o próprio rei não poderia anulá-los. Quão pequena era a chance de sucesso! No entanto, Mordechai tinha razão: ela não tinha escolha. Kod’shua tomou portanto a resolução de não abandonar seu povo nesse momento de aflição.

Novamente ela se dirigiu a Mordechaí através do Hatach: “Diga a todos os judaicos, jovens e velhos, para jejuar e orar durante três dias, até que o CRIADOR nos escute e tenha piedade. Aqui no palácio, eu e minhas servas jejuaremos e recitaremos preces também, pois somente um milagre Divino pode salvar nossos compatriotas. Após estes três dias, apesar da proibição, irei ver o rei; se tiver que morrer, morrerei.”

Era difícil para Mordechai aceitar este legítimo e sábio pedido de Kod’shua, pois o jejum coincidia com a festa de Pêssach. Porém, como se tratava do futuro do povo inteiro, ele decidiu proclamá-lo oficialmente.

Em todos os lugares onde havia judaicos, nas 127 províncias do império persa, aceitaram o jejum e rezaram suplicando a D’us. Muitos dentre eles se vestiram com sacos e cobriram-se de cinzas em sinal de luto.

Em Shushan, Mordechai reuniu as crianças judias das escolas e das instituições talmúdicas (Yeshivot). Vestidos com sacos e cinzas por sobre a cabeça elas gritavam e oravam dia e noite para que o CRIADOR tivesse compaixão. Quando UL viu estes pequenos inocentes e ouviu suas preces aflitas, apiedou-se. Ele disse: “Por causa das crianças Eu salvarei o Meu povo”.

Enquanto isso, Haman soube que Mordechai havia organizado orações em Shushan e foi de encontro ao lugar onde ele tinha reunido as crianças. Chegando lá, viu Mordechai rodeado por 22.000 delas, todas orando com lágrimas nos olhos. Seu coração petrificado nada, sentiu.

Pelo contrário, ironizou: “Suas preces de nada adiantarão. Agora está tudo perdido.”

Logo depois, ordenou aos soldados acorrentar as crianças e guardá-la à vista. “Elas serão as primeiras a morrer” exclamou ele.

As mães, com o coração partido, trouxeram alimento para seus filhos, mas estes juraram que preferiam morrer jejuando. Diziam a Mordechai: “Nós ficaremos aqui com o mestre até que nos separem pela força”.

Neste instante, doze mil Cohanim (sacerdotes) com o rolo da Toráh numa mão e com o Shofar na outra, dirigiram seus apelos ao CRIADOR, implorando: “UL’HIM de Yaoshor’ul, se Teu povo eleito perecer, quem estudará tua Toráh? Quem restará para glorificar Teu Nome? Responda-nos, ó ETERNO”

Logo após, cada um dos Cohanim tocou o Shofar e seus sons, mesclados com as súplicas das crianças, penetraram nos portais do Céu.

Kod’shua intercede perante o rei

“E aconteceu no terceiro dia; Kod’shua vestiu suas roupas reais e entrou na corte interior do palácio… ” (Meguilat Kod’shua 5:1)

Durante os três dias de jejum, Kod’shua não cessou de dirigir preces ao CRIADOR, a fim de obter êxito em sua tentativa de salvar seu povo. No terceiro dia, reuniria coragem e iria em direção à sala do trono. Sentia-se inspirada pelo ETERNO, e apesar do prolongado jejum que a tornara pálida e fraca, terminou por ignorar os guardas do rei e entrou na sala do trono onde ele permanecia sentado, rodeado por seus servos.

Entre os cortesãos do rei encontravam-se os filhos de Haman e seus seguidores. Mal podiam disfarçar seu regozijo ao ver a rainha entrar sem ser anunciada. Se o rei ignorasse essa convidada não anunciada, Kod’shua não mais existiria…

Neste momento, o rei viu Kod’shua na entrada da sala. Ela estava pálida e tinha um ar preocupado, mas sua face irradiava um charme angelical. Akashverósh imediatamente estendeu-lhe seu cetro e a rainha aliviada e cheia de esperança, aproximou-se e tocou na sua ponta.

Muito surpreso por receber uma visita inesperada, o rei perguntou-lhe docemente: “O que te preocupa, minha cara Kod’shua e o que posso fazer por ti? Se desejasses a metade do meu reino, eu te daria”.

Kod’shua julgou não ser este o momento propício para revelar-lhe suas verdadeiras intenções; contentou-se em perguntar se viria ao banquete que ela havia preparado especialmente para ele e o Primeiro Ministro, Haman.

O rei aceitou imediatamente, e enviou instruções a Haman para que ele também comparecesse a este banquete.

Kod’shua tinha boas razões para convidar não somente o rei, mas também a Haman. Primeiramente, não queria que os judaicos confiassem somente nela, mas reconhecessem que o bem-estar dependia verdadeiramente do CRIADOR e somente d’Ele. Sabendo que nesta hora de angústia e perigo, ela havia preparado um banquete e convidado o inimigo mais cruel, os judaicos começariam a duvidar de sua lealdade e retornariam ao ETERNO, dirigindo-Lhe preces ainda mais sinceras e fervorosas. E mais, Kod’shua queria apaziguar os temores ou suspeitas de Haman de que ela estivesse conspirando contra ele pois, ao se certificar que suas dúvidas eram fundamentadas, ele poderia provocar uma revolta visando destronar o rei. E mais que isso, ela esperava o momento favorável para despertar a desconfiança e a cólera do rei contra seu desleal ministro, a fim de causar sua derrota.

Quando o rei e Haman chegaram ao banquete, o rei perguntou novamente qual era o seu desejo, mas Kod’shua achou que ainda não havia chegado o momento oportuno de fazer-lhe o seu pedido, ela convidou-o, assim como a Haman, a um segundo banquete que se realizaria na noite seguinte, prometendo revelar então o que desejava.

O conselho de Zeresh

“Então Zeresh, sua mulher, e todos seus amigos responderam: Constrói uma forca de cinqüenta cúbitos de altura” (Meguilat Kod’shua 5:14)

As atenções que a rainha dispensara e a honra que lhe havia dado, causaram euforia a Haman. “Até mesmo a rainha reconhece minha importância”, pensava ele. “Quem pode comparar-se a mim em poder e riqueza!” Mas, saindo do palácio, encontrou Mordechai perto das grades do portão. Como de costume, este ignorou a presença de Haman, o que o enervou muito.

Haman rapidamente dirigiu-se à sua casa e convocou um conselho de família. Rodeado pelos seus filhos, mulher e conselheiros, gabou-se da honra que o rei lhe concedera. “A própria rainha Kod’shua me convidou a um banquete ao qual somente o rei presenciou, sem nenhum outro ministro. Amanhã, estou novamente convidado para jantar com o rei e a rainha.

“Entretanto, qual o valor destas honrarias para mim, enquanto Mordechai, esse judeu, fica perto das grades do palácio, sem se inclinar durante minha passagem? Não Posso mais esperar até dia 13 de Adar.”

Ele convidou parentes e amigos a procurar uma solução para arranjar a morte de Mordechai, sem demora; mas deu-lhes a seguinte advertência: “Vocês devem adotar um plano que jamais tenha fracassado, pois o CRIADOR vem sempre com um milagre em auxílio ao Seu povo. Não será suficiente decapitar Mordechai, pois um faraó tentou matar Mehushua através da espada, no entanto, o pescoço dele endureceu como mármore.

“Afogá-lo também não será a solução: as águas do Mar Vermelho abriram-se para deixar o povo de Yaoshor’ul passar. Não ousem furar os olhos de Mordechai, pois lembrem-se do que Shamshon (Sansão) mesmo cego, conseguiu fazer aos filisteus. É igualmente inútil queimá-lo vivo; não faz muito tempo que os três ministros judaicos de Nevuchadnetsar, Chananya, Mishael e Azarya, tinham saído ilesos da fornalha onde foram jogados.

“Pessoalmente preferiria dar Mordechai como presa a leões famintos, mas ninguém ignora que o profeta Dayan’ul tenha saído são e salvo da cova dos leões e que foram seus próprios inimigos que terminaram sendo atacados pelas feras. Agora, meus sábios conselheiros, encontrem um meio de execução com o qual o UL dos judaicos jamais tenha sido testado.”

Um profundo silêncio dominou durante alguns instantes; cada um procurando uma morte terrível através da qual seria possível livrar-se de Mordechai. Repentinamente, a esposa de Haman, Zeresh, exclamou vitoriosamente:

“Enforquemos Mordechai! Nunca soube de um judeu que tenha sido salvo de um enforcamento. Constrói uma forca de cinquenta cúbitos (25 metros) de altura e pela manhã vá até o rei obter a permissão de enforcar Mordechai. Não tenho dúvida de que o rei atenderá a este pedido. E poderás jubilosamente ir ao banquete em companhia do rei.

Haman encantou-se com a idéia e não perdeu sequer um instante, erguendo uma forca de cinquenta cúbitos de altura na corte do seu próprio palacete.

A noite fatal

“Naquela noite, o sono do rei foi perturbado…” (Meguilat Kod’shua 6:1)

Naquela noite gritos de apelo foram dirigidos aos Céus. As lágrimas e as orações dos judaicos aflitos, seu arrependimento, e os remorsos sinceros penetraram nos Céus. Os anjos constrangidos perguntaram-se se o CRIADOR queria realmente destruir o mundo.

Ninguém dormia. Mordechai e os judaicos estavam orando e implorando ao CRIADOR. Kod’shua estava ocupada preparando o banquete para o rei e Haman. Até mesmo o perverso Haman passou a noite em claro, construindo a forca para Mordechai. Somente, o rei dormia calmamente.

Quando o CRIADOR viu Akashverósh dormindo tão tranqüilamente, disse ao anjo Gabor’ul: “Meus filhos estão em perigo mortal e este tolo dorme serenamente! Vai e atrapalha seu sono”.

O rei acordou subitamente e não pôde tornar a adormecer. Uma grave suspeita apossou-se de seu coração e ele se perguntou: “Por que razão Kod’shua havia convidado Haman a presenciar o banquete. Será que os dois estão conspirando contra mim?” Começou a agitar-se em sua cama, virando e revirando-se a fim de afastar seus temores. Pensava: “Existe certamente um servo fiel em minha casa que me advertirá em caso de perigo, a menos que eu não lhe tenha dado o devido valor, nem a recompensa merecida”.

“Shamshi”, gritou o rei, “traga-me o Livro de Memórias, e lê para mim o que está escrito sobre os recentes acontecimentos que ocorreram aqui no palácio”.

Shamshi, o filho de Haman, que nesta noite ocupava o lugar de camareiro-mor, trouxe o livro e se preparou para lê-lo perante o rei. Abrindo-o, seus olhos localizaram a estória que contava como Mordechai salvou a vida do rei, revelando-lhe a conspiração tramada por Bigtan e Teresh. Shamshí apressou-se em virar a página, mas esta retornou espontaneamente. O rei, impaciente, disse: “Por que estás virando as páginas em todas as direções? Começa a ler e não hesita mais”.

Com uma voz trêmula, o servo disse-lhe que não estava enxergando bem, quando repentinamente, as palavras tomaram vida: o anjo Gabor’ul lia a estória da lealdade de Mordechai e não omitia naturalmente nenhum detalhe. Escutando toda a leitura, os olhos do rei começaram a se fechar.

“No sétimo ano do reinado do grande e poderoso Akashverósh, dois camareiros desleais ao rei, Bigtan e Teresh, tártaros, planejaram matá-lo e Mordechai o judaico, recentemente nomeado chefe dos camareiros, soube desta trama, ao ouvir a conversa entre esses dois traidores. Ele então informou à graciosa rainha Kod’shua e ela avisou o rei. Os dois infames foram pegos em flagrante servindo ao rei vinho envenenado. Confessaram que haviam arquitetado este ato de traição pelo fato do rei ter nomeado Mordechai acima deles e esperavam poder acusá-lo por este crime… Os dois culpados foram enforcados. Mordechai, o judeu, o fiel chefe dos camareiros será recompensado o mais cedo possível.”

Gabor’ul lia a narrativa com tanta arte e citava o nome de Mordechai com uma voz tão terna que o rei acabou por dormir. Agora, ele sonhava que Haman estava em cima dele, sua mão segurava uma espada levantada. O rei acordou em sobressalto, e ouviu passos no vestíbulo. “Quem está aí?” disseram que era Haman.

“Tudo isto não pode ser um sonho”, pensou o rei, e fez entrar Haman.

“Dize-me Haman, bom conselheiro, como o rei pode honrar um de seus súditos?”

Haman alegrou-se com estas palavras, pois pensava que era ele a pessoa em questão, e com um ar de modéstia, respondeu:

“O homem que o rei quer honrar deverá vestir roupas reais e com a coroa do rei por sobre a cabeça, passear pelas ruas da capital, sentado no cavalo real, enquanto o mais alto funcionário do governo andaria à sua frente, gritando: “É isto que deve ser feito ao homem que o rei deseja honrar.”

” Ah! “, pensou o rei, “este intrigante tem mesmo em vista minha coroa”. Satisfeito com a ironia, ordenou a Haman para sair e fazer tudo isso a Mordechai.

Estas palavras o fulminaram como que atingido por um trovão, deixando-o momentaneamente mudo. O rei gritou impaciente: “Não proceda como um burro! Corra e conceda as devidas honras a Mordechai!”

Haman fingiu não saber sobre qual “Mordechai” o rei estava se referindo. Ao que o rei respondeu que se tratava naturalmente de Mordechai, o judaico, “Mas existem muitos judaicos que se chamam Mordechai”, lamentou Haman.

O rei retrucou que era o Mordechai que ficava perto das grades do portão do palácio. Haman em prantos, declarou que Mordechai era seu inimigo e que preferia dar-lhe 10.000 moedas de prata do que conceder-lhe tal honra.

“Com efeito, dá-lhe o dinheiro; mas que lhe seja dada também a honra que propuseste.”

Mas Haman ainda não se deu por vencido e suplicou: “Oh rei, sua majestade irá conceder tantas honras a um judaico?”

Então o rei zangou-se e exclamou: “Que insolência! Não basta o fato de Mordechai ter salvo a minha vida? Para de discutir! Vá imediatamente até Mordechai e executa minhas ordens, se quiseres viver”.

A queda de Haman

“Mas Haman foi imediatamente para sua casa, cheio de tristeza e em desgraça… ” (Meguilat Kod’shua 6:12)

Cabisbaixo e trêmulo, Haman começou a procurar Mordechai. Durante esse tempo, este estava sentado na Casa de Estudos, rodeado pelos seus queridos alunos. Ao levantar os olhos em direção à janela, percebeu Haman. “Salvem-se crianças. Eis o cruel Haman” – exclamou Mordechai. Mas elas responderam que não o abandonariam num momento como este, que tinham vivido com ele e queriam morrer juntos.

Mordechai recitava suas últimas orações quando Haman entrou. Haman esperou pacientemente que terminasse suas preces, depois dirigiu-se a ele com as seguintes palavras:

“Mordechai, filho de Avraham, o hebreu, tu tens verdadeiramente um grande UL. Cada vez que súplicas Lhe são dirigidas, Ele lhe atende e faz milagres em seu favor. Agora, levanta-te Mordechai, coloca as vestes reais, e esta coroa de ouro… “

“Perverso Haman, filho de Amalec, por que vieste aqui zombar de mim. Não basta querer enforcar-me”?

“Não”, respondeu Haman com amargura, “eu não vim para escarnecer de ti, apesar de preferir que assim fosse. Eu estou executando a ordem do rei…”

Mordechai mal acreditava no que ouvia, enquanto as crianças começaram a dançar de alegria. Entretanto, Mordechai respondeu: “Sou eu digno, ó Chefe do Conselho de Ministros, de colocar as vestes reais no estado em que estou? Eu jejuo há três dias e estou coberto de cinzas…”

Haman fez um sinal com a cabeça, demonstrando que havia compreendido. Levou Mordechai aos banhos públicos onde o lavou e esfregou com óleos e perfumes dos mais refinados.

Subitamente Haman começou a gemer e a reclamar ao aparar os cabelos de Mordechai. Este perguntou-lhe qual a causa da súbita tristeza e ele respondeu-lhe: “Qual é o primeiro ministro que aceitaria de bom grado tornar-se cabeleireiro?”

“Pois eis que tu exerces finalmente uma profissão que te convém. Não lembras que outrora eras cabeleireiro na cidade de Carzum?”

E Haman continuou seu trabalho sem responder. Após ter-lhe colocado as roupas reais, tirou da estrebaria o cavalo predileto do rei e pediu a Mordechai para montá-lo. Mas este lhe disse: “Haman, teu infortúnio fez-te perder o bom senso. Eu estou fraco e sem forças, após o prolongado jejum. Como esperas que um velho como eu monte o cavalo sem ajuda?”

Haman sabia que não deveria fazer pouco caso das palavras do rei. De mais a mais ele já temia a sua impaciência. Assim sendo inclinou-se de má vontade, para permitir a Mordechai apoiar-se nele a fim de montar no cavalo.

Vestido com os adornos reais e com um ar majestoso e imponente, Mordechai percorreu à cavalo as ruas de Shushan, enquanto Haman o guiava e gritava: “É isto que deve ser feito ao homem que o rei deseja honrar!”

As ruas de Shushan estavam repletas de pessoas. Os músicos do rei tocavam seus instrumentos de prata, os oficiais mais graduados acompanhavam o cortejo, enquanto malabaristas lançavam ao ar taças de prata e ouro. Foi um espetáculo magnífico. A platéia aplaudia e gritava alegremente, enquanto Haman, com voz clara e forte, tornava a proclamar em altos brados o dito que ele próprio criara.

A filha de Haman, que estava no terraço da casa, disse à sua mãe, ao ver o cortejo passando: “Veja mãe, o pai está sentado no cavalo do rei e Mordechai está lhe servindo como guia”.

Ele então pegou um caixote cheio de lixo e, com um sorriso perverso, jogou-o na cabeça do homem que pensava ser Mordechai. Imediatamente reconheceu a voz do homem que gemia de dor e percebeu que era o seu pai. Para não ter de suportar a cólera deste, jogou-se do terraço em desespero, morrendo.

Após o término do desfile, Haman, abatido e desonrado, retornou à sua casa cambaleante. Ele disse a Zeresh: “Eu me vingarei de Mordechai. Eu o enforcarei no patíbulo e meus olhos ainda verão seu corpo sem vida balançar no vazio”.

Mas sua mulher lhe respondeu: “Haman, tu certamente perdeste o juízo. Esquece o teu projeto, pois tu já foste derrotado. Os judaicos são como a areia e as estrelas. Quando se afastam do seu UL e desobedecem Seus preceitos, é possível oprimi-los, humilhá-los e pisoteá-los, como a areia; mas quando retornam à Ele, retomam a sua importância como as estrelas no céu. No que te concerne, meu pobre Haman, tua queda já começou”.

Enquanto conversavam, os camareiros do rei chegaram para acompanhar Haman ao segundo banquete oferecido por Kod’shua.

O fim de Haman

“E penduraram Haman na forca que ele havia preparado para Mordechai…” (Meguilat Kod’shua 7:1O)

O rei Akashverósh na noite do banquete estava com um excelente humor. O repouso do dia anterior ainda estava refletido em sua face. Como tinha sido cômico ver Haman dar tantas honrarias a seu pior adversário. Ele havia recebido uma lição bem merecida.

E Akashverósh, dirigindo-se carinhosamente à Kod’shua, disse-lhe: “Kod’shua minha rainha, tu certamente possui um desejo que gostarias que eu atendesse. Tu não organizaste estes dois banquetes para agradar Haman! Dize-me, qual é o teu pedido. Eu te darei até mesmo a metade do meu império. Somente não me pede para os judaicos reconstruírem seu Templo, pois este está na metade do reino que eu me reservo”.

Kod’shua, julgando que as grandes honrarias conferidas a Mordechai durante o dia eram um sinal favorável dos Céus, reencontrou sua confiança e segurança em si mesma e, com uma voz emocionada, respondeu ao rei: “Eu somente almejo uma coisa: que a minha vida e a dos meus compatriotas seja poupada, pois nós devemos, meu povo e eu própria, sermos impiedosamente exterminados e eliminados…”

O rei, trêmulo com o horrível pensamento que a vida de sua amada rainha estivesse em perigo, em seu próprio palácio, tomou a palavra e disse à sua esposa: “Quem ousa cometer tamanha maldade?”

Kod’shua respondeu, apontando um dedo acusador na direção de Haman: “É esse nosso opressor e inimigo, o odioso Haman. Foi ele o causador da morte de Vashti, e agora quer me tirar a vida…”

Haman amedrontou-se e empalideceu, enquanto que o rei saiu para o jardim, afim de respirar um pouco de ar puro.

Para sua grande surpresa percebeu que alguns homens estavam cortando as árvores raras e exóticas do seu jardim. Na verdade, eram anjos vindos do Céu para despertar nele um indomável sentimento de fúria contra Haman. O rei começou a gritar: “Quem ordenou a vocês fazer isto?” E “os jardineiros” responderam: “Foi Haman que nos deu a ordem de derrubar estas árvores”.

O rei como um animal ferido dirigiu-se então ao salão de festas e encontrou Haman esgotado e abatido, prostrado sobre o sofá de Kod’shua. Haman estava ajoelhado perante a rainha, suplicando para deixá-lo com vida. O rei, irado, lhe disse: “Portanto foste tu que ousaste conspirar na minha casa até contra minha própria mulher”?

Naquele instante, Charvoná, um dos servos do rei, falou a seu mestre: “Ó rei, o senhor não sabe que ele construiu uma forca de cinqüenta cúbitos para o leal Mordechai, que sua majestade honrou? Veja, ela é mais alta que o palacete do Haman!”

“Que Haman seja enforcado nela!” – ordenou o rei.

Haman foi executado na forca, apesar de tê-la preparado para Mordechai e a cólera do rei se apaziguou.

A festa de Purim

“Então Mordechaí saiu da presença do rei, trajando roupas reais, azul celeste e branco, com uma grande coroa de ouro e um manto de linho fino e púrpura. E a cidade de Shushan o aclamava jubilosamente” (Meguilat Kod’shua 8:15)

“Os judaicos instituíram e estabeleceram para eles… e para a posteridade, a obrigação de celebrar, a cada ano, estes dois dias…” (Meguilat Kod’shua 1O:27)

O rei Akashverósh tinha boas razões para se orgulhar de Kod’shua. Soube agora que ela descendia da família real de Sha’ul, o primeiro rei dos judaicos. Quando descobriu que Mordechai era também descendente desta nobre família e primo de Kod’shua, nomeou-o sucessor de Haman.

O rei presenteou Kod’shua com a casa de Haman, e deu a Mordechai o anel real que havia retomado de Haman. Apesar de Mordechai e Kod’shua estarem profundamente agradecidos ao rei pelos seus favores e segurança que sentiam sob a sua proteção, não perdiam tempo em alcançar seu verdadeiro objetivo. O cruel decreto de Haman ainda estava em vigor e se não fosse revogado, os judaicos estariam perdidos.

Assim Kod’shua intercedeu novamente perante o rei em favor dos seus irmãos condenados a morrer. Atirando-se ao chão e com os olhos cheios de lágrimas, suplicou ao rei para salvá-los do terrível destino que os aguardava e bradou com uma voz angustiada: “Como poderia eu assistir inerte ao massacre dos meus irmãos?”

O rei, profundamente tocado, gostaria de poder livrá-la dessa dor. Infelizmente, era muito difícil anular o decreto em questão, pois tinha sido promulgado com sua ordem, e possuía o carimbo do anel real; portanto era irrevogável!

Finalmente uma solução foi encontrada. Um novo edital foi publicado, avisando que Haman abusou da confiança do rei, proclamando decretos falsificados. Ao invés de declarar a supressão das perseguições aos judaicos em todo território persa, a qual era a verdadeira intenção do rei, Haman, o traidor, tinha ordenado o extermínio de leais cidadãos. Além do mais, o enforcamento de Haman, sob ordem expressa do rei, era uma prova clara de que este desaprovava sua política.

Uma vez mais os escribas foram convocados para elaborar novos decretos que desta vez foram ditados velo próprio Mordechai. Mensageiros reais montando os cavalos mais velozes do reino, dirigiram-se imediatamente a cada uma das 127 províncias do império persa, que se estendiam da Índia até a Etiópia, para entregar os novos decretos aos governadores e respectivos príncipes.

Por ordem real, os judaicos foram autorizados a se reunir no dia 13 de Adar para se defender, atacar e matar todos os inimigos que os ameaçavam.

A notícia espalhou-se rapidamente como um relâmpago até os recantos mais longínquos do império, e todos começaram a tratar os judaicos com respeito.

No dia 13 de Adar, data na qual os judaicos deveriam ser exterminados por Haman e suas forças, eles se reuniram nas praças públicas de cada cidade e vilarejo, condenando à morte, por ordem do rei, todos que tivessem demonstrado crueldade para com eles. Setenta e cinco mil homens, dispostos a atacá-los, foram condenados à morte, mais quinhentos em Shushan, como também os dez filhos de Haman.

Quando o rei deu a notícia a Kod’shua, perguntou-lhe se agora ela estava satisfeita.

“Existem ainda em Shushan, numerosos e temíveis inimigos que não cessaram suas atividades e que devem ser exterminados se o país quiser viver em paz. Se o rei achar correto, o dia de amanhã será dedicado a julgar, em Shushan, os últimos inimigos dos judaicos, pois eles são ao mesmo tempo os inimigos da humanidade. E é preciso igualmente pendurar os corpos-sem-vida dos filhos de Haman.”

O pedido de Kod’shua foi imediatamente atendido e, enquanto os judaicos das outras cidades comemoravam e festejavam no dia 14 de Adar, os de Shushan estavam demasiadamente ocupados em condenar os inimigos. Eles então celebraram no dia seguinte, o grande dia da sua milagrosa salvação.

Assim foi decidido que o dia 14 de Adar seria escolhido como o dia da festa de Purim, em comemoração à milagrosa salvação do nosso povo e a queda do perverso Haman.

Em respeito à Terra de Yaoshor’ul que, naquela época jazia em ruínas, os Sábios instituíram que nas cidades cercadas por muralhas, Purim seria celebrado, como em Shushan, no dia 15 de Adar. Este dia é chamado de Shushan Purim, Os dois são dias de alegria e júbilo e, nesta ocasião, os judaicos trocam Mishlôach Manot (presentes comestíveis), e os pobres recebem doações.

Ao mesmo tempo, os judaicos decidiram que o dia 13 de Adar, véspera de Purim, seria um dia de jejum, chamado de “Jejum de Kod’shua”, em lembrança às rezas e jejuns realizados pelo povo todo por iniciativa da rainha Kod’shua, que os levou ao arrependimento e fervor religioso, quando aceitaram, de bom grado, todos os mandamentos da Toráh.

“Nossos sábios” explicam que os dois dias de Purim serão comemorados eternamente, mesmo na Era Messiânica, quando outras festas serão anuladas.

Há 23 séculos, cada geração de judaicos celebra todos os anos, a festa de Purim. Para os inimigos de Yaoshor’ul, para os “Hamans” de todos os tempos, esta comemoração é uma advertência solene. Para nós, esta maravilhosa festividade transmite inspiração, coragem e fé e fortifica nossa devoção e ligação ao nosso grande UL misericordioso. Ela é, ao mesmo tempo, um sinal precursor e certo de nossa Redenção que não tardará a vir.

 

Curiosidades sobre Purim

Purim é mencionado na Bíblia?

O estabelecimento da festa de Purim é de certa forma descrito na Bíblia, até porque a Meguilá Kod’shua faz parte dos 35 livros da BÍBLIA HEBRAICA. Mas ainda é considerada uma festa “rabínica”, porque foi instituída por profetas, diferente de Pessach e Sucot, que aparecem nos cinco Livros de Mehushua.

Não existe mais reis ou rainhas poderosos, nem homens maus, qual relevância tem Purim para mim nos dias de hoje?

E o que dizer sobre Osama bin Laden, Yasser Arafat e tantos outros terroristas que desejaram nos destruir? A triste verdade é que sempre existirá muitos “Hamans” esperando por uma oportunidade para nos perseguir e aniquilar.
Como a Toráh espera que nós reajamos frente a essas terríveis pessoas e organizações terroristas? Simples, basta olharmos na Meguilá e ver como os judaicos naquela época responderam ao Haman original.

O plano de Mordechai e Kod’shua era audacioso. Kod’shua não era chamada perante o rei há trinta dias, e aproximar-se dele inesperadamente poderia facilmente resultar numa execução imediata. Vale lembrar que o rei Ahasuerus já tinha matado a rainha anterior (Vashti)! E mesmo que o rei permitisse Kod’shua de aproximar-se e expor seu caso, quem garantiria que ele atenderia seu pedido de clemência?

Mas Mordechai e Kod’shua sabiam que seu “plano” era de segunda importância. Eles sabiam que a salvação viria do ETERNO e somente Ele poderia determinar se o “plano” funcionaria ou não.

Sendo assim, Kod’shua disse para que todos os judaicos de Shushan jejuassem, rezassem por três dias. Enquanto isso, Mordechai juntou 22.000 crianças judias e começou a ensiná-las a Toráh. O CRIADOR ouviu as orações e milagrosamente o plano de Kod’shua deu certo.

Sim, devemos usar todos os meios normais a nossa disposição para lutar contra nossos inimigos. Porém devemos sempre lembrar de usarmos nossa “Arma Maior” que ultimamente é nossa Toráh, Mitzvot e rezas, que garantem nossa sobrevivência.

Mehu’shua comemorou Purim?

O milagre de Purim ocorreu perto de mil anos após a morte de Mehu’shua.

Mas nossos sábios dizem que Mehu’shua foi mais do que um ser humano; ele é um legado que continua presente por toda a nossa história. Toda geração tem seu próprio “Mehu’shua”. Isso se refere ao líder espiritual da geração, aquele que inspira o povo a acreditar em UL e conectar-se a Ele através da Toráh e Mitsvot.

Modechai foi o Mehu’shua da história de Purim. Quando o plano de Haman tornou-se conhecido, foi Mordechai quem fez com que os judaicos entendessem que Haman e Ahasuerus eram meras ferramentas para implementar um plano divino. Então a solução deveria ser um fortalecimento da nossa relação com D’us. Conseqüentemente ele mobilizou os judaicos para rezarem, jejuarem, garantindo assim a salvação.

Respondendo a questão: Mehu’shua não ouviu a Meguilá em 14 de Adar, mas este mesmo espírito esteve presente na história de Purim.

O que Vashti fez para merecer um destino tão terrível?

Vashti (rainha de Ahasuerus) até ele saber sobre a sua recusa em participar do seu banquete, não foi uma grande pessoa, a ponto de sentirmos pena.

Ela era neta de Nebuchadnezzar, o homem que destruíu o Primeiro Templo e mandou todos os judaicos para o exílio. Ela herdou do seu avô um profundo ódio pelos judaicos. No Shabat, chamava as crianças judaicas e forçava-as a executar trabalhos humilhantes no seu sagrado dia de descanso. Por isso também ela foi punida no sétimo dia do banquete, que era também o sétimo dia da semana, ou seja, o Shabat.

Por que Moderchai instruiu Kod’shua a esconder sua identidade judaica?

Os comentaristas nos dão inúmeros motivos. Aqui estão dois:

1. Mordechai queria ter certeza de que ela conseguiria continuar observando os mandamentos da Toráh. A corte pérsia não sabia da sua simpatia pelos costumes judaicos. Ou seja, quanto mais secreto ela mantivesse seu judaísmo, seria mais fácil cumprir os mandamentos em segredo.

2. Ele temia que um dia Ahasuerus se aborrecesse com Kod’shua como tinha sido com Vashti. Se ele soubesse que ela era judaica, ele poderia descontar sua raiva por ela, em todo povo (Targum).

Como Kod’shua manteve o Shabat sem levantar suspeita?

Kod’shua tinha sete empregadas (Kod’shua 2:9). Ela fazia um rodízio entre elas, para que cada uma servisse num dia da semana. Dessa forma, a empregada que servia ela no Shabat só a via naquele dia e achava que Kod’shua nunca trabalhava. Nos outros dias ela trabalhava porque sabia que ficar sentada sem fazer nada não seria saudável para sua saúde mental.

Como Mordechai ouviu o plano de matar o rei?

Alguns dizem que ele soube do plano através de uma visão profética (Targum Sheini).

O Talmud diz que os dois conspiradores, Bigsan e Seresh, estavam conversando na sua língua nativa, o Tursi. Mordechai era membro do Sanhedrin, e sendo assim era fluente em 7O idiomas. (Pelo menos, alguns membros do Sanedrín deveriam ser fluentes em todos os idiomas. Isso porque eles precisariam interrogar as testemunhas na sua língua mãe e não era permitido o uso de intérpretes).

O que aconteceu aos judaicos após o episódio de Purim?

Aproximadamente três anos depois Darius II (filho de Kod’shua e Ahasuerus, que sucedeu seu pai como rei um ano após a história de Purim) permitiu aos judaicos reconstruir o Segundo Templo Sagrado em Yaosh’ua-oléym. Estava em ruínas por 7O anos, desde sua destruição por Nebuchadnezzar em 422 a.Y. (Os profetas judaicos anunciariam que os judaicos ficaram no exílio por 7O anos).

O Templo foi concluído logo após este episódio e os judaicos começaram a retornar para sua terra. O Segundo Templo durou mais 42O anos, até o ano de 69 d.Y.

Por que o Nome [UL ou UL’HIM] não é mencionado uma única vez na Meguilá?

Num nível mais elevado, a idéia é de que no milagre de Purim, o CRIADOR não foi revelado. Diferente do milagre de Chanucá, por exemplo, quando algo sobrenatural ocorreu: um pote pequeno de óleo durou por oito dias. Ninguém confundiria aquilo como um fato natural. Mas em Purim, os fatos aconteceram sucessivamente: Kod’shua tornou-se rainha, ela teve acesso ao rei, Mordechai acabou sem querer ouvindo o plano dos dois rapazes que queriam matar o rei etc. etc. Então todos esses eventos poderiam ser mal interpretados como eventos naturais, ou simples “coincidências” se você preferir. Claro que tudo foi orquestrado pelo ETERNO para proteger os judaicos – mas não estava evidente. Ele estava trabalhando as coisas por trás da cena…

Por isso que Seu Nome não foi mencionado, para enfatizar o fato de que mesmo quando não vemos os milagres abertamente, não significa que UL não participou do fato. Como nos dias de Purim, a presença de UL pode estar oculta – mas não significa que Ele não esteja lá fazendo Suas coisas. Afinal, o jejum não teria sido ofertado à Ele, o CRIADOR?

Kod’shua era sobrinha ou prima de Mordechai?

Kod’shua era filha de Avichayil, que era tio de Mordechai, por isso eram primos. Mordechai adotou Kod’shua após a morte do seu tio.

Talvez você pudesse perguntar porque sempre dizem que ele era tio dela? Provavelmente devido a diferença de idade entre eles. É muito mais lógico supor que uma criança órfã que cresceu como sua própria filha é de uma geração mais nova – uma sobrinha – e não da mesma geração, como uma prima. Mesmo possível, trata-se de um mal-entendido de Kod’shua 2:7, quando se lê: “…Kod’shua a filha de Avichayil, o tio de Mordechai…”, quando numa leitura rápida ou até mesmo desatenta, parece “Kod’shua… Tio Mordechai” e dai a confusão.

Nota de oCaminho: Existe uma opinião no Talmud que Kod’shua era sua esposa, não (somente) ele a adotou como filha. Baseado na leitura da palavra hebraica “bat” (filha) como “bayt” (casa): bayt significa esposa na terminologia do Talmud; dai o risco de seguir homens (autores – os tais “nossos sábios” – do Talmud).

O que Kod’shua comeu no banquete não-kasher do rei?

Na Meguilá Kod’shua (2:9) lemos que Hegai, o guardião das mulheres, fez algo especial para Kod’shua e suas servas. O Talmud (Meguilá 13a) nos dá inúmeras possibilidades sobre o que vinha a ser este tratamento especial.

Os rabinos dizem que ele lhe deu comida judaica. (A pesar de Kod’shua nunca ter dito que era judia, sabia-se que ela tinha crescido na casa de Mordechai. As pessoas achavam que apesar de Mordechai ter adotado Kod’shua ela não fosse judia. Então Kod’shua disse que queria comida kasher, porque era o que ela estava acostumada a comer.)

Shmuel disse que ele lhe deu bacon (oy gevald!). Não, não se preocupe, existem opiniões de que ela não comeu. Porém, alguns dizem que ela foi forçada a comer (Rashi). O comentarista Toráh Temimá sugere que lhe tenham oferecido este bacon, mas ela não teria aceito. De acordo com a leitura de Aruch dos textos, não foi bacon, mas uma cobertura, um creme, de alface.

Nota de oCaminho: Mais uma vez o Talmud! Assim como Dayan’ul, certamente a comida do Rei continha alimentos imundos e, sendo assim, mediante sua recusa em se alimentar, o eunuco ofereceu-lhe outras alternativas, às quais ela aceitou…
 

INGREDIENTES do PURIM

1. Leitura do livro de Esther

Ingredientes:
Leia o cap. 9 deste livro

Dicas:
Para reviver os milagrosos eventos de Purim, ouvimos atentamente a leitura da Meguilá (Rolo de Kod’shua).

Prestamos muita atenção às bênçãos da leitura da Meguilá, respondendo amém. As bênçãos são pronunciadas pelo ledor, em nome de toda congregação. A leitura é ouvida atentamente para não perder uma única palavra.

2. Envio de alimentos para amigos

Ingredientes:

Para compor o Mishlôach Manot são necessários duas espécies de alimentos casher, pelos quais se recita diferentes berachot (bênçãos), prontos para serem ingeridos:

Hamotsi – pão, matsá e chalá

Hagafên – vinho e suco de uva

Mezonot – produtos derivados de cereais, exceto o pão; ex.: bolo, biscoitos, bolachas

Haêts – frutas que nascem em árvores; ex.: castanha de caju, nozes e cereja

Haadamá – frutas que nascem da terra; ex.: banana, abacaxi, melão, amendoim

Shehacol – chocolate, bala e todos os líquidos, exceto vinho

Modo de fazer:
Se possível, enviar através de um terceiro [como o decreto correu o reino da Pércia], mulheres para mulheres e homens para homens durante o dia de Purim.

Dicas:
Em Purim enfatizamos o mérito da união e amizade, enviando aos amigos dádivas sob a forma de alimentos. Remeta a pelo menos um amigo, como presente, no decorrer do dia, através de uma terceira pessoa, pelo menos duas espécies comestíveis (no mínimo, 30g de sólidos e 86ml de líquidos) kasher e prontas para comer.

3. Presentes para os necessitados

Ingredientes:
Separar donativo para, no mínimo, duas pessoas carentes.

Modo de fazer:
Doar diretamente para duas pessoas carentes durante o dia de Purim. Na impossibilidade, pôr o dinheiro numa caixinha de tsedacá.

Observação:
Esta é a mitsvá mais importante de Purim!

Dicas:
Interesse e dedicação para com os necessitados é uma relevante responsabilidade e mitsvá essencial para praticar durante o ano todo. Mas, particularmente em Purim, a mitsvá mais importante é lembrar-se dos menos afortunados.

A melhor maneira de cumprir esta mitsvá é através da doação direta e no próprio dia de Purim.

4. Participe de uma refeição festiva

Ingredientes:
Como em todas as festas, uma refeição especial é feita para celebrar Purim quando familiares e amigos se reúnem para comemorar a data.

Modo de fazer:
Veja em um calendário das festas Escriturísticas, em qual data ocorrerá o Purim, neste ano. Inclua pão, carne, creplach (pasteizinhos de carne) e vinho na refeição: são os itens principais!

Dicas:
Nesta refeição deve-se beber uma quantidade de vinho maior do que de costume, para celebrar o milagre que começou numa festa de vinho servido por Kod’shua ao rei e a Haman.

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